Vitoria Evans, leitora do blog, fez esse ótimo texto, explorando as relações entre Songs Of Innocence de U2 e William Blake.
"The
Holy Word
That walk'd
among the ancient trees
Calling the
lapsed soul
And weeping
in the evening dew"
Agora a banda lança seu 13º álbum de estúdio com o título de
uma das mais épicas e famosas obras da poesia Romântica: 'Songs of Innocence',
também de William Blake. Não vi o fato sendo muito discutido ou divulgado,
porém, analisando a obra original de Blake e o próprio álbum do U2 consegui ver
semelhanças filosóficas em ambos.
'Songs of Innocence', um clássico do Romantismo, foi escrito
e publicado por Blake em 1789. A obra consiste em uma coletânea de poemas.
Cinco anos depois, ele publicou uma segunda coletânea, 'Songs of Innocence and
of Experience'. Como sabemos, a banda já anunciou que seu próximo álbum leva o
título de 'Songs Of Experience', obviamente não poderíamos simplesmente esperar
que esses dois títulos fossem dados ao acaso por simplesmente agradarem à
banda, algum significado hão de ter. Para tentar entendê-lo, li sobre as obras
de Blake e o significado dessas duas obras. Não sou fã de longas explicações,
por isso, resumidamente, escrevo o que cada obra do escritor representa e qual
é a minha impressão do significado do álbum relacionado aos poemas, além do que
isso me faz imaginar sobre o próximo álbum.
Antes de tudo, vale comentar que 'Songs of Innocence' e
'Songs of Experience' são duas coletâneas de poemas que se completam e é
aconselhado lê-las juntas, sendo uma um comentário sobre a outra e vice-versa.
Cada poema de uma obra se contrasta com cada poema da outra, como pontos de
vista diferentes de um mesmo fato, a alma humana.
'Songs of Innocence', 1789 - 'inocência', na obra, se refere
à infância, ao mundo infantil, mesmo que não se limite à idade de uma criança.
Isso significa que essa inocência simboliza a pureza da infância mesmo quando
apresentada na juventude, por exemplo. Esta obra fala sobre as coisas boas e
doces do homem, sobre qualidades como amor, compaixão e simpatia.
'Songs of Experience', 1794 - 'experiência', por outro lado,
se refere ao oposto da inocência (lembrando que uma obra completa a outra),
identificando o mundo adulto, as responsabilidades, carências e a consciência
da maldade. É neste mundo de experiências que conhecemos a tirania e a
injustiça em vez de liberdade, punição em vez de perdão, egoísmo em vez de
compaixão.
De acordo com a obra, inocência e experiência são estados da
mente paradoxais que coexistem, mostrando que a alma humana é tanto inocente como
corrupta.
Agora, falando do SOI, acho que minha análise pode ser
dispensada, muitos já fizeram isso. Basicamente, o novo álbum do U2 é
completamente inspirado na juventude da banda, acontecimentos que os marcaram
quando jovens, coisas boas e ruins. Falam desde a primeira vez deles na
Califórnia até ao falecimento da mãe de Bono e, em cada música, temos
referências a outros músicos e bandas que os influenciaram ou inspiraram de
certa forma. A impressão que tive foi a de que o álbum inteiro trata de acontecimentos
antigos, nada nele é recente... Se assim for, então isso representa, para mim,
uma ligação muito forte com a primeira coletânea de Blake, algo que vai além do
título do álbum. Posso estar errada mas, ao meu ver, ambos tratam da mesma
ideia: a inocência e a juventude. O título, diferentemente do que vi sendo dito
por alguns, não foi ao acaso. O que me leva a pensar sobre o futuro Songs of
Experience. A pergunta que deixo é a seguinte: se SOI fala sobre a jovem banda
e suas descobertas assim como Blake fala da inocência em seus primeiros poemas,
isso significa que podemos esperar de SOE o oposto de SOI? Um álbum mais
político, com histórias e experiências recentes, tratando da vida adulta?
Pessoalmente, faz sentido.
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